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Moradia Estudantil Unifesp

Moradia Estudantil Unifesp

Competition Submission, National Architecture Competition for Student Housing: "Moradia Estudantil - UNIFESP - S.J. dos Campos", in January of 2015

Architects: Marcos Dornelles and José Raphael Sette


Proposta enviada ao Concurso Público Nacional de Arquitetura para a Moradia Estudantil da UNIFESP na cidade de São José dos Campos - SP, em janeiro de 2015

Arquitetos: Marcos Dornelles e José Raphael Sette
INTRODUÇÃO
 
A Universidade Federal de São Paulo, UNIFESP, é uma das instituições públicas de ensino superior que mais cresce em todo o Brasil. Com a sua origem na Escola Paulista de Medicina, criada em 1933, a UNIFESP transformou-se em universidade federal em 1994, e desde então vem ampliando de forma significativa tanto o número de cursos quanto o de vagas oferecidas. Em 2005 foi iniciado o processo de expansão da instituição para campi fora da cidade de São Paulo, inicialmente com a criação do Campus Baixada Santista e posteriormente em Diadema, Guarulhos, Osasco e São José dos Campos, que assumem a responsabilidade de organização de cursos em áreas do conhecimento além das ciências da saúde, tais como as ciências exatas, humanas, ambientais e sociais aplicadas.
 
O presente concurso tem como objeto a elaboração de propostas para a Moradia Estudantil do Campus São José dos Campos, inserido no Parque Tecnológico recentemente instalado na cidade. O objetivo é garantir que os estudantes, sobretudo alunos de baixa renda, tenham melhores condições de estudo ao residir nas proximidades das unidades acadêmicas. Sendo assim, o planejamento inicial é atender 240 alunos dos cursos de Ciência e Tecnologia: Biotecnologia, Ciência da Computação, Engenharia Biomédica, Engenharia de Computação, Engenharia de Materiais e Matemática Computacional.
Localização
CONCEITO DE IMPLANTAÇÃO
 
O terreno de 12.929,89m² destinado à Moradia Estudantil está localizado no centro da gleba pertencente à Universidade dentro do Parque Tecnológico de São José dos Campos/SP, em uma península circundada por Área de Proteção Ambiental (APP) a Oeste, Norte e Leste, com conexão ao tecido urbano pela divisa Sul, além de um eixo Leste-Oeste – ainda em projeto – que divide o terreno em área de convivência, ao Norte, e área de moradia, ao Sul.
 
O conceito que norteia a implantação da Moradia é a plena integração do edifício a ser erigido com o contexto existente, tanto urbano e natural, quanto universitário. O objetivo então é a criação de espaços que permitam uma efetiva entrada da cidade no terreno, sem comprometer, por sua vez, os aspectos de privacidade, contemplação e concentração necessários para os estudantes inseridos no ambiente acadêmico.
 
Uma inspiração inicial é a idéia de “idiorritmia”, formulado pelo escritor francês Roland Barthes. De origem grega, o vocábulo, composto por ídios (próprio) e rhythmós (ritmo), foi utilizado para designar o modo de vida adotado por certos monges, que viviam sós e com liberdade na organização de suas tarefas, mantendo apenas alguns elos com o mosteiro. Para além do mundo religioso, a palavra "idiorritmia" procura designar todo empreendimento que concilia - ou tenta conciliar - a vida coletiva e a vida individual, a independência do sujeito e a sociabilidade do grupo.
 
A ideia de uma estrutura que permita este modo de vida pode ser visualizada na figura do claustro, presente em uma série de edificações religiosas por todo o mundo. O claustro consiste tipicamente em quatro corredores cobertos, que juntos criam um pátio de forma quadrangular, e permitem dividir e conectar claramente os ambientes privados – celas – dos ambientes comunitários – pátio.
 
Desta forma, o primeiro gesto arquitetônico para a implantação da Moradia foi organizar todo o programa (áreas de uso privado e uso coletivo, além de áreas técnicas e de circulação) em um volume quadrado articulado em torno de um pátio central [1]. O gabarito escolhido para este volume foi o de cinco pavimentos, pois este é um desnível que possibilita àqueles fisicamente capazes a circulação vertical sem a necessidade de elevadores, 
facilitando assim, a fluidez por todo o conjunto.
 
O primeiro empecilho para a manutenção desta forma no contexto desta Moradia Estudantil é a contraditória “claustro-fobia” causada pelo pátio fechado. O desejo de equilibrar a possibilidade de privacidade com a de comunidade obriga a uma nova interpretação do claustro, onde os quatro lados são destacados uns dos outros e abre-se então o espaço central para o entorno urbano e natural [2].
 
O próximo passo é permitir que cada um dos blocos possa gozar das melhores condições de orientação solar e também desfrutar das vistas para a generosa Área de Proteção Ambiental que circunda o terreno [3]. Além da APP, a relativa cota elevada da implantação abre o panorama para o horizonte de campos, paisagem esta que batiza a cidade.
 
Por fim, cada bloco é assentado em uma cota de nível que vai reduzindo-se gradualmente na medida em que se avança à porção Norte do terreno, mais baixa [4]. Da mesma maneira, o pátio central que conecta e dá acesso a todos os blocos também desce gradualmente, agarrando-se ao perfil natural do terreno e criando uma série de patamares conectados através de largas escadas e rampas. Cria-se então uma ampla e sinuosa conexão pedonal ou promenade urbana e pública, que se inicia no acesso Sul do terreno, cruza por entre os blocos, atravessa o eixo viário Leste-Oeste, e leva até a área de convivência no limite da APP. Além disto, é criada uma passarela de pedestres no limite Oeste do terreno que possibilita a conexão entre a Moradia Estudantil e a Área Esportiva do Campus.
 
Para enfatizar a prioridade do pedestre, ciclista e do usuário de transporte público frente ao tráfego de veículos como um dos objetivos primordiais da proposta de implantação, foi criado um anel viário de caráter secundário, com vias de largura e velocidade reduzidas, que tem como única função permitir o acesso de veículos aos fundos de todos os blocos, viabilizando assim mudanças, carga e descarga, e também a eventual entrada de veículos de manutenção e emergência em todo o perímetro do lote. O acesso destes veículos é possível através do limite Sul do terreno, mas existe também a possibilidade da criação de outro acesso direto ao eixo viário Leste-Oeste, caso isto se mostre necessário no futuro.
DISTRIBUIÇÃO DO PROGRAMA
 
O Programa de Necessidades apresentado nas Bases do Concurso traz uma estimativa de áreas necessárias para cada um dos espaços solicitados para a proposta. Além disto, é apresentada uma hierarquia esquemática entre os ambientes que os divide da seguinte forma: espaços de uso privativo, espaços de uso coletivo imediato (estas duas categorias juntas formam o chamado “núcleo de moradia”), espaços de uso coletivo intermediário e espaços de uso coletivo geral, além das áreas técnicas e de circulação. 
 
De forma a possibilitar o máximo de racionalização construtiva e também de flexibilidade futura na utilização e ocupação dos espaços, todo o programa foi dividido em quatro blocos residenciais praticamente idênticos, sendo distintos entre si somente na distribuição e articulação dos seus respectivos pavimentos térreos. Cada bloco é composto de um pavimento térreo, quatro pavimentos tipo e uma cobertura em forma de terraço jardim. 
 
Os térreos conectam-se diretamente ao pátio central através de escadas, rampas e – sempre que possível – passagens no mesmo nível. Neste pavimento estão localizadas todas as áreas denominadas de espaços de uso coletivo geral, além de áreas técnicas e os acessos às escadas, uma em cada extremidade dos edifícios, e elevadores, um por bloco.
 
Nos pavimentos tipo estão todos os núcleos de moradia, além dos espaços de uso coletivo intermediário. Todos os pavimentos tipo dos quatro blocos possuem basicamente a mesma distribuição de planta, com exceção do tipo de espaço de uso coletivo intermediário: espaços de estar nos andares ímpares e espaços de estudo restrito nos andares pares. O ponto inicial para o projeto destes pavimentos foi a referência de um total de 240 alunos para a Moradia, que divididos em quatro blocos, com quatro pavimentos tipo cada, nos dá o número de 15 alunos por pavimento. É por esta razão que os espaços de estar e de estudo restrito estão em andares alternados, pois cada um deles é projetado para atender 30 alunos.
 
Para os núcleos de moradia, a solução adotada foi a de agrupar dois quartos individuais com um quarto duplo, totalizando quatro alunos em cada grupo, que por sua vez são atendidos por um “auto-serviço” com espaços de uso coletivo imediato – banheiro, copa e área de serviço. Desta forma, é possível criar um “grupo de moradia tipo” para quatro alunos, propiciando o convívio igualitário entre alunos de quarto duplo com os de quarto simples, e respeitando-se também a proporção entre estes tipos de quartos que foi solicitada no programa. 
 
Para os chamados “quarto família”, foram desenvolvidos pequenos apartamentos privados, que englobam tanto os espaços de uso privativo quanto os de uso coletivo imediato, preservando ainda mais a privacidade e autonomia das famílias no contexto da Moradia. É importante destacar que estes apartamentos foram posicionados nos extremos opostos em planta aos espaços de estar e estudo restrito, de maneira a evitar quaisquer tipos de conflitos entre estes usos.
ADEQUABILIDADE AMBIENTAL
 
Outro condicionante primordial para o desenho do pavimento tipo, além do atendimento do programa de necessidades, é a orientação solar. Os quartos Simples e Duplos – em todos os blocos – estão voltados para o quadrante Leste; as áreas de circulação, copa e área de serviço para o quadrante Oeste; e o Quarto Familia, Norte. Conforme mencionado no Termo de Referência, é muito importante que, “durante o período da manhã, tenha-se luz solar incidente nos quartos, pois a luz ajuda no despertar do funcionamento das funções orgânicas dos usuários”. Além disto, na direção Leste / Nascente do terreno, temos vistas para a maior área da APP do Parque Tecnológico, o que favorece a contemplação e concentração para os estudantes em seus quartos. Para o conforto térmico das unidades, a orientação adotada também é a ideal, uma vez as largas circulações e as reentrâncias do desenho das áreas de copa e área de serviço protegem os quartos do Oeste / Poente.
 
Além da adequação do programa às respectivas orientações favoráveis, as fachadas mais expostas à incidência solar – Leste e Oeste - recebem aparatos de sombreamento ajustáveis e aliados às esquadrias. Desta forma, os usuários podem regular da forma que lhes for mais conveniente a posição destes aparatos para aumentar ainda mais seu o conforto térmico e lumínico, além da privacidade. Isto, aliado à possibilidade de ventilação cruzada que os corredores cobertos e abertos propiciam, torna os blocos altamente eficientes nos aspectos ambientais e energéticos. Muito mais do que inserir formas alternativas de geração de energia, é dever da arquitetura possibilitar a redução extrema do desperdício dos recursos.
 
 
ADAPTABILIDADE E FLEXIBILIDADE
 
Tendo como base esta malhar modular, ortogonal e equilibrada, a distribuição interna dos espaços visa ser o mais versátil e flexível possível. Para tal, conforme observou o arquiteto holandês John Habraken, a construção do “suporte” deve ser encarada de forma distinta da construção do “preenchimento”. Por suporte, neste caso, entende-se a superestrutura de concreto protendido, com fundação, pilares e lajes planas sem vigas, escadas, acessos, além dos principais ramais alimentadores de instalações. Como preenchimento, temos os fechamentos internos e externos - que podem ser de alvenaria leve, de concreto ou cerâmica, ou ainda em dry-wall, placas cimentícias e light steel frame - as esquadrias e os equipamentos de instalações, como pias, bacias sanitárias e bancadas, além de todo o mobiliário. Assim, encaramos que o suporte é a condição mínima dada ao usuário para que a unidade habitacional seja inicialmente ocupada, e que o suporte é tudo aquilo que o usuário precisa para ocupar definitivamente a unidade habitacional. Desta forma, o atual uso de Moradia Estudantil para 240 estudantes, com as distribuições internas tal como estão planejadas, pode ser adaptado, ampliado e alterado ao longo da vida útil da edificação.
CONSTRUÇÃO E ESTRUTURA
 
Com o objetivo de racionilizar ao máximo a construção optou-se pela criação de uma só tipologia de pavimento tipo que se repete em todos os quatro blocos. A distribuição de todos os espaços e elementos estruturais seguiu o módulo de 1,20m: no sentido longitudinal, este módulo foi agrupado em eixos a cada 4,80m, com balanços em ambos os lados de 2,40m. No sentido transversal, de forma a manter o máximo de equilíbrio mesmo com a forma recortada dos pavimentos, os elementos estruturais foram distribuídos por um vão principal de 6,00m, flanqueado em ambos os lados por vãos de 3,60m.
 
Para a obtenção de maiores vãos e também a economia em aço e concreto, a estrutura utilizada será de lajes planas de concreto protendido, sem vigas, suportadas por pilares retangulares com seção estimada em 0,20m x 0,90m e 0,30m x 0,40m. Os pilares foram distribuídos na malha de eixos alinhados tanto no sentido longitudinal quanto no transversal, trabalhando assim para o maior contraventamento global da estrutura. As escadas plissadas em concreto armado podem ser apoiadas diretamente nas lajes, ou então – quando é o caso – engastadas na caixa em formato de “U” que abriga os elevadores.
ACESSIBILIDADE
 
Um dos maiores desafios do projeto arquitetônico que tem como objetivo a acessibilidade universal é o bom funcionamento da circulação em um terreno com grandes desníveis. Por isto, desde o desenvolvimento inicial da implantação e das edificações as escadas, rampas, elevadores e demais circulações foram consideradas para a criação de um conjunto harmonioso, onde estes elementos se encaixassem nos volumes de forma natural e dinâmica, e não como meros adendos que são encaixados “a posteriori”.
 
A escolha de dividir o programa em quatro blocos que se apoiam no declive do terreno, e de cada bloco possuir quatro pavimentos-tipo, possibilitou que, se o desnível entre um bloco e o outro fosse igual ao pé-direito (piso a piso) do pavimento tipo, seria possível conectar todos os blocos por intermédio de passarelas elevadas, possibilitando assim a circulação em nível desde o primeiro pavimento tipo do bloco mais elevado até o último pavimento tipo do bloco mais baixo. Ou seja, o piso desta passarela é constante na cota de nível +602,00, que equivale ao primeiro pavimento tipo do primeiro bloco, o segundo do segundo bloco, o terceiro do terceiro bloco e o quarto do quarto bloco. Assim, é possível o acesso universal entre todos os blocos sem a necessidade de utilização do pavimento térreo e do pátio, o que amplia as possibilidades de interação entre os alunos e moradores dos diversos blocos, tanto para os portadores de necessidades especiais (cadeira de rodas ou mobilidade reduzida), quanto para as pessoas fisicamente capazes.
 
Outra estratégia adotada para ampliar a acessibilidade é a redução do número de patamares e do uso de longas rampas entre todos os diversos níveis do pátio central. O posicionamento dos blocos foi estudado para que cada patamar fosse alcançado após o desnível máximo de 1,50m, o que aumenta a integração visual entre estes patamares e amplifica a interação dos usuários deste novo espaço urbano.
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